quinta-feira, 8 de maio de 2008

"Os Vampiros"

Zeca Afonso (1963)

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A letra deste poema cantado por José "Zeca" Afonso tem uma fortíssima carga metafórica, como não podia deixar de ser no auge do Salazarismo, do lápis azul e da PIDE.

De facto, parece claro que a referência aos vampiros se refere à polícia política do regime e a todos quantos, quais Vicentes, a troco de favores ou recompensas de vária ordem, denunciavam aqueles que ao dito regime se opunham.

Os vampiros são apresentados, no poema, como os seres que, às escondidas ("Pela noite calada") e disfarçadamente ("Com pés veludo"), surgem subrepticia e inesperadamente em qualquer lugar e momento ("Poisam nos prédios / Poisam nas calçadas"). Todas as pessoas que se deixam amedrontar pela sua presença e pelo seu aspecto ("Se alguém se engana / Com seu ar sisudo / E lhes franqueia / As portas à chegada") e lhes franqueiam as portas, vêem o seu sangue chupado, isto é, perdem a vida (sangue = elemento vital = vida).

Os vampiros têm a protecção e agem a mando do poder ("Dançam a ronda / No pinhal do rei") e geram o terror, semeando violência, opressão, injustiça ("No chão do medo / Tombam os vencidos / Ouvem-se os gritos / Na noite abafada / Jazem nos fossos / Vítimas dum credo"). O ambiente, de facto, era «abafado», isto é, opressivo. E os vampiros lançam-se sobre as suas vítimas de forma inexorável e incessante (observar a metáfora "O sangue da manada"), conservando a sua vida, tal como o animal mítico do cinema, à custa da vida dos outros.

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