quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Grupos constituintes da frase

          As frases são constituídas por conjuntos de palavras que se relacionam entre si e formam uma unidade com sentido. São os chamados grupos frásicos.
          Os grupos frásicos nucleares são o grupo nominal e o grupo verbal, que constituem blocos independentes um do outro.

1. Grupo nominal (GN)

          O grupo nominal é o grupo de palavras que tem como núcleo um nome ou um pronome. Pode ser constituído pelos elementos seguintes:

                    a) Núcleo (nome ou pronome):
                              . Amália Rodrigues faleceu.
                              . Ela faleceu.

                    b) Determinantes e / ou quantificadores + núcleo:
                              . Aquele cão é velho.
                              . Todos os dias faço exercício físico.

                    c) Núcleo (especificado ou não) + complementos e / ou modificadores:
                              . Vi um gato que era feio. (nome + oração)
                              . A irmã do meu irmão é minha tia. (nome + grupo preposicional)
                              . Uma mulher bela alegra uma manhã chuvosa. (nome + grupo adjectival)


          1.1. Concordância interna ao grupo nominal

               . O adjectivo concorda em género e número com o núcleo do GN que modifica ou complementa:
                         . A Marieta é uma mulher linda.
                         . A Henriqueta e a Marieta são mulheres lindas.

               . Os determinantes e os quantificadores concordam em género e número com o núcleo do GN que especificam:
                         . A minha esferográfica falhou.
                         . Os teus pais divorciaram-se.



2. Grupo verbal (GV)

          O grupo verbal é um grupo de palavras que tem como núcleo um verbo. Pode ser constituído pelos seguintes elementos:

                    a) Verbo (núcleo):
                              . A economia derrapou.

                    b) Complexo verbal, composto pelo núcleo (verbo principal ou copulativo) + verbos auxiliares:
                              . Os alunos estão a conversar.
                              . O gato estava a comer uma sardinha.

                    c) Núcleo + complementos:
                              . Eu vi o Pedro. (verbo + complemento directo)
                              . Ele ofereceu um relógio à namorada. (V + CD + CI)

                    d) Núcleo + complementos e / ou modificadores:
                              . Os cães voltaram no dia seguinte. (verbo + modificador)



3. Grupo adjectival (GAdj)

          O grupo adjectival é um conjunto de palavras que constitui uma unidade sintáctica cujo núcleo é um adjectivo. Pode ser constituído pelos seguintes elementos:

                    a) Adjectivo (núcleo):
                              . A Kate Beckinsale é uma mulher belíssima.

                    b) Advérbios de quantidade ou grau + adjectivo:
                              . A Kate Beckinsale é mais bela do que a Irina Privalova.
                              . Eu sou muito magro.

                    c) Núcleo acompanhado dos seus complementos, que ocorrem à sua direita:
                              . Fiquei espantado com os alunos. (adj. + grupo preposicional)
                              . A Joaquina é difícil de aturar. (adj. + oração subordinada completiva)



4. Grupo adverbial (GAdv)

          O grupo adverbial é um grupo de palavras cujo núcleo é um advérbio. Pode ser constituído pelos seguintes elementos:

                    a) Advérbio (núcleo):
                             . Caí além.
                             . Vibrei intensamente com a vitória do Benfica.

                    b) Núcleo + complemento e / ou modificador:
                              . O Aimar jogou bastante bem.
                              . O Claude Chabrol morreu exactamente ali.



5. Grupo preposicional (GPrep)

          O grupo preposicional é composto por uma preposição ou uma locução prepositiva e pelo respectivo complemento.
          Por outro lado, o GPrep forma uma unidade sintáctica, facto comprovável pela circunstância de não ser possível deslocar alguns dos seus elementos na frase:
                    . Ele olhou para ti.
                    . * Para ele olhou ti.

          O GPrep pode ser constituído pelos elementos seguintes:

                    a) Preposição + grupo nominal:
                              . Carlos ia formar-se em Medicina.
                              . Arranquei a osga da parede.

                    b) Preposição + advérbio:
                              . O Cardozo guardou a pontaria para ontem.

                    c) Preposição + oração:
                              . O Benfica enfrentou o Sporting sem o temer.

domingo, 5 de setembro de 2010

Predicativo do sujeito

     O predicativo do sujeito é a função sintáctica desempenhada pelo constituinte (palavra ou expressão) seleccionado por um verbo copulativo (ser, estar, ficar, continuar, parecer, permanecer, revelar-se, tornar-se):
                        ____predicado__
                 . Eu sou muito baixo.
               sujeito |  predicativo do sujeito
                         verbo copulativo

                 . O Antunes permaneceu na água mas enregelado.

                 . A Maria Kirilenko é bonita, mas a Li Peng não o é. [o = bonita]

     Por outro lado, o predicativo do sujeito, contrariamente ao que sucede com os complementos, atribui uma característica, uma propriedade ou uma localização (espacial ou temporal) ao sujeito, contribuindo, assim, para a sua interpretação.

     O predicativo do sujeito pode ser constituído por:

          . um grupo nominal:
                    . O Pedro é um rapaz triste e azedo.
                    . O Eusébio foi um atleta extraordinário.
                    . A minha avó parece uma abóbora.

          . um grupo adjectival:
                    . Os meus filhos são lindos.
                    . Os alunos pareciam muito tranquilos.
                    . Fiquei espantado com o empate de Portugal.

          . um grupo preposicional:
                    . A minha mãe está em Mangualde.
                    . Caeiro era de estatura mediana.
                    . Onde estiveste de férias?
                    . Fiquei em casa.
                    . O PM está sem ânimo.

          . um grupo adverbial:
                    . Fiquem bem, amigos!
                    . O meu aniversário foi ontem.
                    . A minha escola é ali.
                    . Os acidentados permanecerão aqui.

          . uma oração:
                    . Pensar é estar doente dos olhos.
                    . A felicidade do Djaló é contemplar a Floribela.

sábado, 4 de setembro de 2010

Complemento agente da passiva

     O complemento agente da passiva é a função sintáctica desempenhada em frases passivas por uma expressão geralmente introduzida pela preposição por - grupo preposicional (ou pelo «resultado» da sua contracção com os determinantes artigos definidos: por + o > pelo; por + a > pela; por + os > pelos; por + as > pelas):

                    . A Josefina foi amada pelo Napoleão. → complemento agente da passiva
                          sujeito               predicado

                    . Este "post" foi escrito por mim.compl. agente da passiva

                    . A minha avó foi atropelada por um camião.compl. agente da passiva

     Na frase activa correspondente, o complemento agente da passiva desempenha a função sintáctica de sujeito, configurando um grupo nominal:

               . O Napoleão amou a Josefina.complemento directo
                    sujeito          predicado

               . Eu escrevi este "post".
              sujeito

               . Um camião atropelou a minha avó.
                    sujeito

     Pelos exemplos apresentados, facilmente se conclui que o complemento agente da passiva integra o predicado.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Complemento oblíquo

1. «Definição»

     O complemento oblíquo (CObl) é uma função sintáctica que integra o predicado. É seleccionado pelo verbo e pode assumir a forma de um grupo adverbial, de um grupo preposicional ou a coordenação de ambos. Além disso, pode também apresentar diferentes valores semânticos.



2. O CObl enquanto grupo preposicional

     Por vezes, pode surgir a dúvida sobre a identificação do CObl, confundindo-o com o complemento indirecto. Atentemos nos dois exemplos seguintes, em que ambas as expressões são iniciadas por uma preposição:
               . O Cruz ofereceu uma prenda à namorada.
               . O advogado foi a Elvas.
               . O Cristiano Ronaldo gosta de automóveis.
     Uma forma de esclarecer esta dúvida passa pela sua substituição pela forma dativa do pronome pessoal - lhe / lhes. Caso a substituição dê origem a frases com sentido, estamos perante um cumplemento indirecto; se a substituição originar frases agramaticais, estamos na presença de um complemento oblíquo:
               . O Cruz ofereceu uma prenda à namorada. → complemento indirecto
               . O Cruz ofereceu-lhe uma prenda. → complemento indirecto

               . O advogado foi a Elvas. → complemento oblíquo
               . * O advogado foi-lhe.

               . Carlos Cruz não concordou com a decisão. → complemento oblíquo
               . * Carlos Cruz não concordou-lhe.

               . Os acusados do processo Casa Pia vão para a prisão? → complemento oblíquo
               . * Os acusados do processo Casa Pia vão-lhe?

     Assim, podemos concluir que, quando a expressão / o grupo preposicional é passível de ser substituído pelo pronome lhe / lhes, desempenha a função sintáctica de complemento indirecto; quando tal substituição gera agramaticalidade, desempenha a função de complemento oblíquo.


     Por outro lado, o CObl é seleccionado pelo verbo, como foi acima afirmado. Tal significa que determinados verbos se combinam com outras unidades. Dito de outra forma,  ir é ir a algum lado; vir é vir de algum lado; discordar é discordar de alguém ou de algo; viver é viver em algum lado; portar-se é  portar-se de um determinado modo, etc.



3. CObl enquanto grupo adverbial

     À semelhança do que sucede com o grupo preposicional, também neste caso não é possível substituir o CObl pelas formas pronominais lhe / lhes:
                    . Os pedófilos portam-se mal.
                    . * Os pedófilos portam-se-lhe.

     Por outro lado, o CObl (enquanto grupo adverbial) surge obrigatoriamente em respostas não redundantes a perguntas como:

               . O que fez + sujeito?
                         » Os arguidos atacaram as testemunhas acolá.
                         - O que fizeram os arguidos?
                         - Os arguidos atacaram as testemunhas acolá. (complemento oblíquo)

               . O que aconteceu com + sujeito?
                         » O Bruno Alves escorregou além.
                         - O que aconteceu com o Bruno Alves?
                         - O Bruno Alves escorregou além. (CObl)

               . O que se passa com + sujeito?
                         » A Paris Hilton levou longe os seus desatinos.
                         - O que se passa com a Paris Hilton?
                         - A Paris Hilton levou longe os seus desatinos. (CObl)



4. O CObl enquanto coordenação de um grupo preposicional e de um grupo adverbial

               . Tu estudas aqui (CObl) ou em Paris (CObl) ?



5. Conclusões

          a) O complemento oblíquo (CObl) é seleccionado pelo verbo e faz parte do predicado. A sua supressão pode gerar incorrecções (agramaticalidade) ou alterações de sentido.

          b) O CObl pode ser constituído por um grupo preposicional, um grupo adverbial ou pela coordenação de ambos.

          c) O CObl não pode ser substituído pelas formas pronominais lhe / lhes.



6. Exemplos

     . O Rui portou-se mal. (ideia de modo)
     . Os juízes condenaram os arguidos à prisão. (ideia de lugar)
     . Vou para Mangualde. (ideia de lugar)
     . Desloquei-me até ao hospital. (ideia de lugar)
     . O meu julgamento foi adiado até Janeiro.
     . Todos concordaram em participar.
     . Mergulhou numa melancolia intransponível.
     . Insisti no tema.
     . Duvido dos arguidos.
     . Os alunos do 11.º A transitaram de ano.
     . Confio em ti, minha esposa.
     . O Dr. Barroso participou num congresso.
     . Não mexas no pudim.
     . Coloca o livro .
     . Eu antipatizo / simpatizo com a Josefina.
     . O frade andava ao peditório.
     . O Outono dá umas pinceladas douradas nas uvas brancas.
     . O Antunes gosta de filmes americanos.
     . A Célia cuida da avó.


Fontes:

     » Dicionário Terminológico;
     » Ciberdúvidas da Língua Portuguesa;
     » AMORIM, Clara e SOUSA, Catarina, Gramática da Língua Portuguesa, Areal Editores;
     » OLIVEIRA, Luísa e SARDINHA, Leonor, Gramática Formativa, Didáctica Editora;
     » AZEREDO, Olga et alii, Gramática Prática de Português, Lisboa Editora;
     » PINTO, José M. de Castro et alii, Gramática do Português Moderno, Plátano Editora

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Vocativo

     O vocativo é a função que representa, sintacticamente, a pessoa ou realidade a quem nos dirigimos, que chamamos ou interpelamos, isto é, o vocativo identifica o interlocutor. Surge apenas no discurso directo, ocorrendo em frases imperativas, exclamativas e interrogativas.

     Distingue-se do sujeito porque está isolado por vírgulas e não determina a concordância verbal, ou seja, não é com ele que o verbo concorda.

     O vocativo pode surgir em diferentes posições na frase:
               . João, come a sopa!
               . Admite, João, que te enganaste.
               . Come a sopa, João!

     Por vezes, o vocativo é reforçado pela interjeição ó, que o antecede:
               . Ó Lili, passa-me o sal.

     O vocativo e o sujeito podem co-ocorrer numa frase:
               . Quando posso eu (sujeito), mãe (vocativo), oferecer-te uma prenda?

Mudança

     Em breve, o blogue adoptará outro «nome»:


Complemento indirecto

     O complemento indirecto é um grupo preposicional (geralmente introduzido pela preposição a) seleccionado pelo verbo:
                                        . O João telefonou à mãe.

     O complemento indirecto pode ser substituído pela forma dativa do pronome pessoal de terceira pessoa lhe / lhes:
               . O João telefonou à mãe.. O João telefonou-lhe.
               . A pergunta tola não dês resposta.. Não lhe dês resposta.
               . Ofereci flores à minha namorada.. Ofereci-lhe flores.

     É de notar que apenas estas formas de terceira pessoa (lhe / lhes) desempenham sempre a função de complemento indirecto, visto que as formas de primeira e de segunda pessoa (me, te, nos, vos) podem também desempenhar a função de complemento directo:
               . Dá-me a prenda. → complemento indirecto
               . O Antunes viu-me nu na praia. → complemento directo

     Quando as referidas formas pronominais (me, te, nos, vos) desempenham a função de complemento directo, podemos confirmar esse facto transformando as frases activas em que ocorrem em passivas. Neste caso, os pronomes assumem as formas eu, tu, nós, vós (vocês). Vejamos os seguintes exemplos:
               . O Antunes espancou-me.. Eu fui espancado pelo Antunes.
               . O Antunes viu-te nu na praia.. Tu foste visto nu, na praia, pelo Antunes.
     Tal não é possível com as formas lhe / lhes:
               . Eu ofereci-lhe flores.. Flores foram-lhe oferecidas por mim.

     Em determinadas circunstâncias, a mesma expressão pode desempenhar, simultaneamente, as funções sintácticas de complemento directo e de complemento indirecto:
               . O Ernesto ofereceu flores (c. directo) à Miquelina (c. indirecto).
  • a palavra flores (c. directo) pode ser substituída pelo pronome pessoal as:
               . O Ernesto ofereceu-as à Miquelina.
  • por sua vez, a expressão à Miquelina pode ser substituída pelo pronome pessoal lhe:
               . O Ernesto ofereceu-lhe flores.

     Procedendo às duas substituições em simultâneo e contraindo os dois promomes (lhe + as), obteremos a seguinte frase:
               . O Ernesto ofereceu-lhas [lhe (à Miquelina) + as (flores)].

     A partir da observação destes dados, concluímos que lhas, o resultado da contracção do pronome pessoal lhe com o pronome pessoal as, desempenha a função sintáctica de complemento directo e indirecto.


     Sempre que existam dúvidas acerca da correcta identificação do complemento indirecto, existe um TESTE (além da sua substituição pelo pronome pessoal lhe / lhes) que permite o seu esclarecimento. Esse teste consiste em perguntar ao verbo a quem ou a quê:

               . O Ernesto ofereceu flores à Miquelina.
               » Ofereceu flores a quem? Resposta: à Miquelina. → complemento indirecto

               . O João telefonou à mãe.
               » Telefonou a quem? Resposta: à mãe. → complemento indirecto

               . A pergunta tola não dês resposta.
               » Não dês resposta a quê? Resposta: a pergunta tola. → complemento indirecto


     É cada vez mais frequente ouvir (em conversas de amigos, familiares, nos corredores ou nas salas de aulas...) frases em que a forma dativa do pronome pessoal (lhe / lhes) é utilizada enquanto complemento directo:
           . *Encontrei-lhe no XP.

     Ora, a forma correcta é a seguinte:
           . Encontrei-o no XP.


     Em suma, podemos concluir que:

          a) O complemento indirecto (CI) é seleccionado pelo verbo.

          b) O CI faz parte do predicado.

          c) O CI é um grupo preposicional, iniciando-se frequentemente pela preposição a.

          d) O CI pode ser substituído pelo pronome pessoal lhe / lhes.

Complemento directo

     Os complementos são constituintes da frase seleccionados por um verbo, um nome, um adjectivo, um advérbio...


1. Definição

     O complemento directo (CD) é um constituinte obrigatório seleccionado pelo verbo (transitivo directo), não precedido de preposição:

          . Eu adoro uvas.
          . O gato comeu o rato.
          . Amo-te.


2. Representatividade

     O CD situa-se, regra geral, à direita do verbo e pode ser representado por:

          a) um grupo nominal:
                    . O Juvenal adora bananas.
                    . Fui à feira e comprei dois sacos de batatas.

          b) uma oração substantiva completiva:
                    . O Jorge afirmou que o Carlos Queirós é um treinador assim-assim.
                    . Quero que te portes bem.

     Quando o CD é um grupo nominal, pode ser substituído pela forma acusativa do pronome pessoal de 3.ª pessoa (o, a, os, as):

                    . Agostinho Oliveira convocou João Moutinho e Manuel Fernandes.
                    » Agostinho Oliveira convocou-os.

                    . A Sara agrediu a Verónica.
                    » A Sara agrediu-a.

     Note-se que os acima referidos pronomes pessoais (o, a, os, as) podem apresentar outras formas quando surgem depois de:

               a) r, s, z (que desaparecem): passam a lo, las, los, las:
                         . Compras a consola (CD)?. Compra-la (CD)?

               b) m e ditongo ou vogal nasal: passam a no, na, nos, nas:
                         . Eles deram um presente (CD) ao Luís.. Eles deram-no (CD) ao Luís.

     Para aprofundar este tema, recomendamos a consulta do «post» referente aos pronomes pessoais. Clicar AQUI.


     De acordo com Clara Amorim e Catarina Sousa, na obra Gramática da Língua Portuguesa, editada pela Areal Editores (p. 122), «Alguns grupos nominais que ocorrem com verbos como pesar, custar ou medir não têm a função de CD, uma vez que não admitem a pronominalização pela forma acusativa do pronome pessoal nem a passiva, mas sim de Cobl (complemento oblíquo), respondendo à pergunta quanto + V + suj?:
               . Este saco pesa dez quilos?
               » * Este saco pesa-os?
               » * Dez quilos são pesados por este saco.
     Note-se, porém, que os mesmos verbos podem seleccionar um CD, com a função semântica de paciente, se o GN (grupo nominal) com a função sintáctica de sujeito desempenhar também a função semântica de agente:
               . O Luís pesou o saco.
               » O Luís pesou-o.
               » O saco foi pesado pelo Luís.»



     Por outro lado, quando o CD é um uma oração subordinada substantiva, pode ser substituído por um pronome demonstrativo:
               . O João disse que o Benfica jogava mal.. O João disse-o.
                                                                         → . O João disse isso.

     Quando o verbo admite a passiva, a transformação da forma activa para a forma passiva implica que CD passe a desempenhar a função sintáctica de sujeito e se desloque para o início da frase:
               . O gato comeu o rato (CD).. O rato (sujeito) foi comido pelo gato.



     O CD pode ser antecedido da preposição a em determinadas circunstâncias:
  • com verbos que exprimem sentimentos relativos a seres humanos e antes do nome Deus:
               . Adoro a Deus.
  • quando o CD é um pronome pessoal antecedido de uma preposição:
               . A mim não me enganam.
  • quando o CD se encontra antes do verbo e é realizado pelo pronome quem:
               . A quem madruga, Deus ajuda.
               . A ferro quente, malhar de repente.
  • para evitar ambiguidade:
               . Caim matou a Abel. (José Saramago, As Intermitências da Morte)

     Note-se que, nestes casos, é possível substituir o CD pelas formas pronominais o, a, os, as e, na passiva, desempenham a função sintáctica de sujeito, pelo que não os podemos considerar complementos indirectos ou complementos oblíquos:
               . Adoro a Deus.. Adoro-o.
                                         . Deus é adorado por mim.



3. Teste

     Além dos testes acima apresentados que permitem a identificação do complemento directo, existe outra forma de o detectar: perguntar ao verbo quem? ou o quê?:

               . O Pedro assaltou a escola.
               » O Pedro assaltou o quê? Resposta: a escola. (CD)

               . Vi a Joana na feira.
               » Vi quem? → Resposta: a Joana. (CD)



4. Conclusões
  • O complemento directo (CD) é seleccionado pelo verbo.
  • O CD, porque seleccionado pelo verbo, faz parte do predicado.
  •  O CD pode ser constituído por um grupo nominal ou por uma oração.
  •  O grupo nominal que desempenha a função sintáctica de CD pode ser substituído pelas formas pronominais o, a, os, as e a oração com a mesma função pelas formas pronominais o ou isso.
  • Aquando da transformação de uma frase activa para a passiva, o CD desloca-se geralmente para o início da frase e passa a desempenhar a função sintáctica de sujeito.


Fontes:
              
     » Dicionário Terminológico;
     » AZEREDO, Olga et alii, Gramática Prática de Português, Lisboa Editora;
     » AMORIL, Clara e SOUSA, Catarina, Gramática da Língua Portuguesa, Areal Editores.