quarta-feira, 11 de março de 2009

Bocage - "Auto-retrato"

Baixa, de olhos ruins, pardacenta,
Usando só de raiva e de impostura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Um mar de fel, malvada e quezilenta;

Arzinho confrangido que atormenta,
Sempre infeliz e de má catadura,
Mui perto de perder a compostura,
É cruel, mentirosa e rabugenta.

Rosto fechado, o gesto de fuinha,
Voz de lamento e ar de coitadinha,
Com pinta de raposa assustadinha,
É só veneno, a ditadorazinha.

Se não sabes quem é, dou-te uma pista:
Prepotente, mui gélida e sinistra,
Amarga, matreira e intriguista,
É autoritária... e é MINISTRA!


Aqui se conclui a publicação de um conjunto de adulterações de poemas de autores portugueses, célebres até há uns tempos, futuramente desconhecidos, porque não contemplados pelos actuais programas de português (com a excepção de Pessoa).

Gostaria muito de indicar a sua autoria, mas, infelizmente, é-me desconhecida. Os textos publicados a conta-gotas chegaram-me à mão através de uma colega, que, por sua vez, os recebeu por «e-mail».

Quando a maioria dos meus alunos for capaz de produzir textos semelhantes, sobre a minha pessoa, por exemplo, estaremos no bom caminho, pois revelarão, finalmente, um rasgo de criatividade, de boa disposição e de rebeldia que nada tem a ver com as imbecilidades que os caracterizam actualmente.