domingo, 31 de maio de 2009

Transgressões - Código sexual

A transgressão, no Memorial do Convento, a nível sexual, tem o ponto máximo no contraste entre a relação carnal entre o rei e a rainha - sexo ritual protocolar para procriação (pp. 11-13, 319-320), profusamente caricaturado pelo narrador - e a relação carnal entre Baltasar e Blimunda, caracterizada por uma entrega sexual permanente e mútua de corpos e de almas sem tabus ou limites, que não os que as próprias personagens «acordam» (p.77).
Outro momento em que a transgressão sexual é bem evidente está relacionada com as propostas que o irmão de D. João V faz à rainha, bem como as sonhos eróticos que esta tem com aquele.
O «desfile» que ocorre pelas ruas da cidade por alturas do Entrudo é outro momento de excessos e de transgressão sexual.

Resumo - Cap. XVI

O narrador critica a governação do reino, nomeadamente o sector da justiça, assente no poder e na riqueza, e dá notícia da morte do infante D. Miguel, afogado, enquanto a vida de seu irmão, infante D. Francisco, é poupada.
A passarola está pronta para voar, mesmo a tempo, pois Baltasar e Blimunda têm de abandonar a quinta de S. Sebastião da Pedreira, perdida, em definitivo, pelo rei para o Duque de Aveiro. O padre Bartolomeu anda agitado, ansioso e receoso de que o acusem de feitiçaria e judaísmo, não obstante o apoio real, e quer dividir a honra e a glória do invento com o casal Baltasar e Blimunda.
Certo dia, o padre Bartolomeu chega, pálido e assustado, dizendo que tinha de fugir, pois o Santo Ofício andava à sua procura para o prender, apontando a passarola como meio para a fuga. E assim sucedeu: depois dos últimos preparativos, a passarola voa de facto. As três personagens vivem momentos de medo, euforia, deslumbramento e felicidade, considerando-se loucos, e, do alto, avistam Lisboa, o Terreiro do Paço, as ruas, etc. Quando a noite chega, a passarola começa a perder altitude por falta de sol, o que provoca momentos de angústia e grande medo. O padre Bartolomeu resigna-se a aguarda o desfecho fatal, mas Blimunda, auxiliada por Baltasar, consegue controlar o aparelho e aterrar em segurança em local desconhecido.
Cansados e após se alimentarem, adormecem. Quando acordam, o padre Bartolomeu procura incendiar a passarola, mas é impedido por Baltasar e Blimunda. De seguida, afasta-se para umas moitas e desaparece para sempre, não obstante as tentativas de Baltasar para o encontrar.
Só, o casal decide cobrir a máquina de ramos e folhas para impedir que seja descoberta. Na manhã seguinte, descem pelo trilho por onde desapareceu o padre e, dois dias volvidos, estão de regresso a Mafra, onde deparam com mais uma procissão a percorrer as ruas, que dava graças a Deus por haver mandado o Espírito Santo voar sobre as obras da basílica do convento.

Editorial do DN


Editorial

União dos professores merece ser avaliada

A greve de quarta-feira fracassara e o momento escolhido para a manifestação era arriscado. O fim de ano lectivo e o período de exames eram, só por si, factores que podiam demover os professores de participarem no protesto. Depois, sendo sábado, implicava a concessão de um dia de descanso e, ainda por cima, com as temperaturas a convidarem muito para a praia, a esplanada, e muito pouco a uma marcha lenta sob um calor acima de 30 graus centígrados.
É por tudo isto que o número de manifestantes que ontem percorreram a Avenida da Liberdade - cerca de 70 mil - não só acaba por surpreender um pouco, como se trata de um sinal de união forte que o Governo deve saber interpretar.
Não está em causa a aplicação da reforma promovida por Maria de Lurdes Rodrigues, que todos, incluindo os sindicatos, já reconheceram ser globalmente positiva para o nosso ensino. Trata-se apenas de reflectir sobre o que significa a mobilização de tantos manifestantes, alguns dos quais garantem, inclusive, estar a produzir a avaliação imposta pelo Ministério da Educação, e continuar a procurar uma base de entendimento sólida com uma classe profissional tão importante para o futuro de qualquer nação, como é a dos professores.
Procura que tem de passar também pelos sindicatos, os quais não devem usar a dimensão da mobilização para tentarem desenterrar alguns radicalismos que os próprios professores já deram sinais de reprovar. E, muito menos, usarem o descontentamento dos professores para fazer campanha política. Mário Nogueira, no entanto, voltou a fazê-lo ontem, demonstrando mais uma vez que os seus interesses estão muito para além do Estatuto da Carreira e da avaliação de desempenho.
Um comportamento reprovável e que prejudica os professores nas negociações com o Governo.