quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Aula 17

. Análise do poema XXVIII:
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-----O poema parte de uma «acção» praticada pelo sujeito poético - leitura incompleta de duas páginas de um livro de «um poeta místico», que lhe suscita uma reacção paradoxal: riso ou pranto. Desde logo, o facto de ter lido «quase» «duas páginas» significa que a leitura lhe desagradou, o que é «confirmado» pela comparação e antítese do verso 3, que sugerem os tais estados de espírito opostos. De facto, o sujeito poético não sabe se há-de rir ou chorar, pois não «consegue decidir-se» se o poeta místico é merecedor de escárnio (riso) ou de piedade (choro). Lendo o primeiro dístico, concluímos que os poetas místicos são doentes, são loucos, o que afirma uma das ideias-chave da poesia de Caeiro: a recusa do pensamento e do mistério das coisas, do misticismo, considerado(s) doença.
-----A conjunção subordinativa causas que inicia a 3.ª estrofe («porque») remete para as causas, as razões que levam o sujeito poético a agir daquela forma: os poetas místicos atribuem segundos sentidos às «coisas», à Natureza, algo que ele rejeita, como é visível a partir do verso 9 e da conjunção coordenativa adversativa «mas» e das conjunções condicionais «se» que se lhe seguem, elementos de que se socorre para demonstrar que os elementos naturais são unicamente aquilo que os sentidos apreendem e lhe transmitem. De facto, para o sujeito poético, a realidade é constituída por aquilo que os sentidos captam, isto é, a Natureza é apenas aquilo que vemos, ouvimos, cheiramos, sem qualquer intervenção do pensamento. Esta é a verdade. Quando nos parece que existe algo mais para além daquilo que os sentidos captam, estamos perante «falsos pensamentos», perante uma «mentira» que «está em nós».
-----Na última estrofe, o sujeito poético retorna à sua pessoa para expressar o seu contentamento por não ser como "os poetas místicos", pois a sua «compreensão» da Natureza está limitada àquilo que vê ("... compreendo a Natureza por fora; / E não a compreendo por dentro..."). Este conceito reflecte-se nas (supostas) simplicidade e espontaneidade da sua poesia que, de tão natural e ausente de artifícios poéticos, se aproxima da prosa ("Por mim, escrevo a prosa dos meus versos...").
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. Correcção de uma ficha de trabalho.
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. Resolução da actividade da página 62 do manual.
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. Resolução, para os alunos que terminaram a actividade anterior entretanto, da ficha de trabalho sobre a coesão interfrásica.

TEXTOS INFORMATIVOS - MODERNISMO
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TAREFA:
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-----1) Ler os textos;
-----2) Fazer a sua síntese, por tópicos, de acordo com os itens:
----------1. Definição de Modernismo;
----------2. Delimitação periodológica;
----------3. Antecedentes do Modernismo.
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TEXTO 1
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-----«Tentemos, na sequência do que ficou dito, fixar algumas balizas cronológicas que demarcam o tempo histórico-literário do Modernismo. Numa perspectiva de largo alcance, pode dizer-se que o Modernismo se estende desde finais do século XIX (cerca de 1890, segundo alguns autores), até depois da 2.ª guerra mundial, mesmo até ao final dos anos 50, quando vão aflrando teorias e práticas culturais classificadas como pós-modernistas; numa perspectiva mais restrita, o Modernismo estende-se das vésperas da primeira guerra mundial até à segunda guerra mundial, sendo que os anos 20 e 30 são o seu tempo mais fecundo. Em Portugal, o aparecimento e a maturação do Modernismo relacionam-se com a relevância cultural assumida por algumas revistas e naturalmente pelos autores que nelas colaboram; os marcos decisivos da afirmação modernista são constituídos, em 1915, pelos dois números da revista Orpheu (um terceiro, já em provas, acabou por não vir a público). A par desta, outras revistas servem de lugar de manifestação literária e doutrinária do Modernismo português: Centauro e Exílio (1916), Contemporânea (1922 - 1926) e Athena (1924 - 1925); entre 1927 e 1940 publica-se a revista Presença, que não só faz ecoar o legado cultural da chamada Geração de Orpheu como, segundo alguns autores, pode ser considerada o órgão cultural de um segundo Modernismo português.»
Carlos Reis, in O Conhecimento da Literatura (pp. 455-456)
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TEXTO 2
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-----«Pode dizer-se que os artigos publicados por Fernando Pessoa, na revista A Águia em 1912, intitulados «A Nova Poesia Portuguesa sociologicamente considerada» e «A Nova Poesia Portuguesa no seu aspecto psicológico», foram a primeira manifestação pública - embora não publicamente assumida enquanto tal - sintomática de que algo iria mudar radicalmente no panorama das letras nacionais. Nestes hábeis enasaios, em que parece referir-se só ao Saudosismo quando anuncia a absoluta e completa novidade da «actual corrente literária», como lhe chamava nessa altura o poeta e jovem crítico estava no fundo a esboçar os fundamentos programáticos de «Orpheu». De facto, Pessoa, que será a personalidade mais relevante do ponto de vista da iniciativa teórica do Modernismo e de todas essas «forças vivas» em contínua e febril «ultrapassagem de inédito» que foram os «ismos», tentava então estabelecer os critérios estéticos - diferenciando-os do contexto poético saudosista e dos seus antecedentes simbolistas - e os pressupostos metafísicos que viriam a ser, na sua maior parte, os da futura «nova poesia».
-----Além deste marco simbólico inicial, podemos considerar que tanto a publicação do primeiro livro de contos de Sá-Carneiro, Princípio, em Outubro de 1912 e a composição de: - «Dispersão», entre Fevereiro e Maio de 1913; - três novelas - «O Homem dos Sonhos», «O Fixador de Instantes» e «Mistério», respectivamente de Março, Julho e Agosto de 1913 e, finalmente, - A Confissão de Lúcio, datada de Setembro desse mesmo ano, como, entre outros, «Na Floresta do Alheamento» e «O Marinheiro», ambos de 1913 e de Pessoa, são momentos importantes na génese de «Orpheu», de tomada de consciência e afirmação da sua singularidade estético-literária, que preparam a ulterior emancipação face ao grupo da «Renascença Portuguesa».
-----Em Fevereiro de 1914, Fernando Pessoa publicou no único número da revista A Renascença o importante poema «Paúis», que assinala, simultaneamente, a sua estreia poética e o momento de afirmação dos modernistas, que formaliza a ruptura com o que designavam, no habitual tom irreverente e esfíngico, como «lepidopterismo nacional». Tratava-se do afastamento em relação às hostes saudosistas, embora a formalização propriamente dita desta dissidência face ao grupo de Teixeira de Pascoaes só ocorra posteriormente através de uma carta enviada pelo poeta a Álvaro Pinto, secretário da revista A Águia. «Paúis» tornou-se emblemático, pois deu origem a uma primeira corrente cosmopolita e modernista chamada «paulismo».»
Carlos Reis, in Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea
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TEXTO 3
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-----Dicionário da Literatura, direcção de Jacinto do Prado Coelho, vol. II, verbete referente ao Modernismo.