domingo, 22 de novembro de 2009

Aula 16

. Análise do poema IX de O Guardador de Rebanhos:
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-----Entre os versos 1 e 8 (1.ª parte), o sujeito poético associa os seus pensamentos ao rebanho e às sensações. Com isto, quer significar que recusa o pensamento, reduzindo-o a "sentir" com os sentidos. Só lhe interessa vivenciar o mundo que capta através das sensações: «pensar é não compreender». Tal como afirma no poema I, o pensamento gera infelicidade, daí a sua recusa. Tomando como exemplo os elementos da Natureza - flores e frutos -, assegura que os sentidos são o veículo prioritário para se relacionar e apreender o mundo: uma flor não se pensa, cheira-se; um fruto não tem sentido, tem sabor. O verbo «saber» tem aqui um duplo significado: por um lado, o fruto sabe àquilo que é; por outro, esse sabor transmite um saber, que é adquirido através dos sentidos. Assim se alcança a verdade, a que reside na Natureza.
-----A própria enumeração dos sentidos não é inocente: o sujeito privilegia a visão, depois a audição, o tacto e o olfacto, por último o gosto.
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-----Entre os versos 9 e 14 (2.ª parte), o sujeito poético declara aceitar alegremente a dor quando ela provém de um excesso natural e encontra na Natureza o seu bálsamo: «E me deito ao comprido na erva, / E fecho os olhos quentes, / Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, / Sei a verdade e sou feliz.». Alguma tristeza que transparece é resultante do excesso de sensações, mas é nestas e na comunhão com a Natureza que residem a realidade e a felicidade. Afinal, as coisas não têm significado, têm existência.
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-----Como é visível na maioria dos seus poemas, a poesia de Caeiro caracteriza-se pela irregularidade a nível estrófico, da métrica, da rima (versos brancos ou soltos) e do ritmo, geralmente binário, lento e longo, de acordo com o fluir da Natureza, que nunca tem pressa.

. A coesão textual.

Aula 15

. Conclusão da análise do poema I de O Guardador de Rebanhos.
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-----O sujeito poético começa por se declarar pastor por metáfora ("Eu nunca guardei rebanhos (...) / Mas é como se os guardasse..."). De facto, não é pastor, mas comporta-se como se o fosse, isto é, há uma parte de si que se comporta como tal: a alma, que é íntima da Natureza ("Conhece o sol e o vento..."). Com efeito, o sujeito poético estabelece com a Natureza uma relação de simbiose que se manifesta na forma como "conhece" os seus elementos e se liga a eles ("E anda pela mão das Estações...").
-----De pastor, o sujeito poético tem, à semelhança de Cesário Verde, o deambulismo, o andar constantemente e sem destino, contemplando a Natureza, concentrado numa actividade suprema: olhar ("E anda pela mão das Estações / A seguir e a olhar."). Esse contacto íntimo com a Natureza traz-lhe "toda a paz" e solidão que a ausência de "gente" faculta.
-----No entanto, no verso 9, o sujeito poético confessa-se «triste». Essa tristeza é causada pelo fim do dia, pelo pô-do-sol, ou seja, com a chegada da noite, ele ver-se-á praticamente impossibilitado de ver o que se passa em seu redor e a Natureza.
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-----A segunda estrofe identifica a «tristeza» com sossego. De facto, a tristeza é tranquila porque contém em si a naturalidade das coisas simples. No fundo, está aqui em destaque um traço característico da poesia de Caeiro: a aceitação do real tal como ele se apresenta, sem interferência do pensamento.
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-----Na terceira e na quarta estrofes, o sujeito poético sugere que a recusa do pensamento é a via para alcançar a paz e a felicidade. Os pensamentos surgem ruidosamente ("Com um ruído de chocalhos...") e ele tem pensa que sejam contentes, pois, "se o não soubesse", seria completamente feliz; assim é paradoxalmente "contente" e "triste", sendo que a tristeza lhe advém da consciência de saber = pensar. E tudo porque «pensar incomoda como andar à chuva», ou seja, o pensamento gera infelicidade.
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. Exercício de análise textual (p. 54 do manual).

. Ficha de trabalho sobre a coesão textual.

Origem dos heterónimos