quinta-feira, 23 de julho de 2009

Os lenços do Adeus

Um bom professor

-----O que é um bom professor? Antes de responder, dois pontos. Primeiro, não há, ou só há por milagre, bons professores numa escola má. Segundo, não há bons professores, sem alunos bons: mais precisamente sem alunos com o interesse e a determinação de estudar. Uma boa escola implica uma cultura específica, um espírito colectivo, fins de uma cristalina clareza e o respeito geral da comunidade. Um amontoado de professores (por muito qualificados que sejam) e um amontoado de alunos, que se limitam a cumprir contrariadamente uma formalidade obrigatória, perante a indiferença da comunidade, não passam de um ersatz da verdadeira coisa. O sistema de ensino em Portugal é em grande parte um ersatz, em que a "avaliação" de professores não faz qualquer espécie de sentido e vai inevitavelmente resvalar para a injustiça e o abuso.
-----Dito isto, um bom professor, como sabe qualquer pessoa educada (hoje uma raridade zoológica), é o professor capaz de transmitir a paixão de aprender. Não é o professor "popular" ou o que "explica bem". E não é, com certeza, o professor "dinâmico" que "melhora as notas" e diminui as "taxas de abandono", com que a sr.ª ministra sonha. A elevadíssima ambição de apresentar à "Europa" e ao governo "estatísticas" menos miseráveis nunca serviu de critério pedagógico. Mas basta olhar o modelo oficial das "provas" para se perceber que serve agora de único critério pedagógico. Manifestamente, a sr.ª ministra decidiu pôr os professores a trabalhar para os números. Para os números dela.
-----Não vale a pena examinar ponto a ponto a "avaliação" que se prepara. Da desordem disciplinar ao vexame de um "polícia" na aula; da vigilância dos "faltosos" (completamente inútil) a actividades extracurriculares (que ninguém pediu e de que ninguém gosta); da "meta" dos "resultados" (que nada significa e é falsificável) à obrigação grotesca de estabelecer, para cada "objectivo" burocrático, um "objectivo estratégico", um "objectivo táctico" e um "objectivo operacional" - a insensatez não pára. E provavelmente não irá parar. A sr.ª ministra não é deste mundo. E ouve vozes. Perante a balbúrdia e os protestos, que provocou, continua convencida da sua razão. Quantio ao governo e ao PS, já descobriram o culpado - como de costume, o PC - e também eles querem "estatísticas" que envergonhem a pátria. O ensino não conta.

(c) Vasco Pulido Valente, in Público