sábado, 10 de outubro de 2009

«Não sei quantas almas tenho»

-----Uma análise, em «podcast», do poema «Não sei quantas almas tenho»:




Aula 8

. Devolução do plano de texto (já corrigido).

. Análise do poema «Ela canta, pobre ceifeira»:

  • Tema: a dor de pensar, de ser lúcido, do qual derivam outras temáticas, como a consciência da brevidade da vida, o tédio/angústia existencial, a dispersão e o aniquilamento (final do texto).

  • Estrutura interna

. 1.ª parte (estrofes 1 a 3): o sujeito poético observa uma ceifeira a cantar, canto esse que, aparentemente, traduz sensações positivas como a alegria, a felicidade, a suavidade («ondula», a espontaneidade (ceifa e canta). No entanto, desde logo se insinuam traços dissonantes: ela «julga-se» feliz, mas não o é, pois é «pobre» (= infeliz) e a sua voz encontra-se cheia de dor e de sofrimento («... e a sua voz, cheia / De alegre e anónima viuvez..." - vv. 3-4). O nome, juntamente com os adjectivos «alegre» e «anónima», exprimem a dor, o sofrimento, o luto mascarado de felicidade, indefinível e inqualificável («anónima»). Assim, o canto/a voz da ceifeira é alegre, cheio de vida, por isso encanta o sujeito, que se alegra por a ver feliz, mas que, por outro lado, se entristece porque sabe que a alegria da ceifeira se fica a dever apenas à sua insconsciência. De facto, se ela fosse capaz de tomar consciência da sua situação, não encontraria razões para cantar: a sua voz possui «curvas» pois nela há «o campo e a lida», isto é, o trabalho excessivo e mal remunerado, o sofrimento, a mulher transformada em instrumento produtivo. No entanto, como não tem consciência disso, ela é feliz.

. 2.ª parte (estrofes 4 a 6): representa os efeitos da audição do canto da ceifeira no sujeito poético. Este começa por confessar a submissão, em si, do sentimento à razão («O que em mim sente s'tá pensando»), contrastando com a ceifeira: ela é feliz porque é inconsciente, ele é infeliz porque é consciente - pensa. Daí os desejos (impossíveis de concretizar) que, seguidamente, expressa: deseja que a ceifeira continue a cantar e derrame nele a sua voz; deseja transformar-se nela, sem deixar de ser ele mesmo (isto é, possuir a inconsciência dela, mantendo a sua própria consciência); deseja que o céu, o campo e canção entrem em si, disponham da sua alma e o levem, acabando assim com o seu sofrimento. Ou seja, o sujeito poético anseia a dispersão, o aniquilamento para dessa forma terminar com o seu sofrimento, resultante da racionalização do sentir - dor de pensar.

  • Estrutura externa/formal:

----------» 6 quadras - vertente tradicional da poesia de Fernando Pessoa;

----------» versos octossílabos;

----------» rima cruzada (abab);

  • Conclusões:

----------» 1.ª) O sujeito poético é um ser infeliz porque pensa, porque racionaliza em excesso (v. 14), daí que inveje e admire a inconsciência e a espontaneidade da ceifeira;

----------» 2.ª) A ceifeira julga-se feliz, porque apenas sente, não racionaliza, não intelectualiuza as suas emoções. Deste modo, para o sujeito poético, a ceifeira e o seu canto constituem a metáfora da felicidade inatingível.


. Exercício de análise textual - poema «Tudo o que faço ou medito»:
-----1. Na primeira estrofe do poema, o sujeito poético confessa a sua frustração.
----------1.1. Identifique a causa que originou esse sentimento.
----------1.2. De que forma os versos 3 e 4 atestam a impossibilidade de realização do «querer»?
-----2. Interprete o sentido da antítese presente na segunda estrofe.

. Trabalho de casa:
-----» Leitura do poema «Gato que brincas na rua»;
-----» Elaboração do texto de reflexão, a partir do plano traçado individualmente;
-----» Resolução da seguinte ficha de trabalho:

-----O exercício tem a ver com os recursos poético-estilísticos do poema «Autopsicografia». São apresentados três conjuntos: exemplos textuais, recursos expressivos, significado dos mesmos. O que se pede é que construa uma frase no caderno diário ligando os três elementos dados, que aparecem desordenados, pelo que terá de fazer a correspondência adequada. Observe-se o exemplo:
-----A - «é», «finge», «lêem»
-----B - formas verbais no presente do indicativo
-----C - reflectem a natureza teórica do poema...
-----Frase/correspondência: As formas verbais «é», «finge» e «lêem» encontram-se no presente do indicativo, tempo verbal que se adequa à natureza teórica do poema, por um lado, e, por outro, acentua a intemporalidade da mensagem.

A:
-----. «gira», «entreter»
-----. «finge tão completamente»
-----. «O poeta é um fingidor»
-----. «...os que lêem o que escreve...»

B
:
-----. perífrase
-----. formas verbais
-----. frase declarativa
-----. advérbio(s)

C:
-----. reflecte o cariz de texto teórico / programático do poema
-----. remete para um dos dois intervenientes fundamentais do processo poético: os leitores
-----. mostra o elevado grau de intensidade do acto de fingir, isto é, a superlativação desse acto, do fingimento
-----. sugerem a feição lúdica do poema/da poesia

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A:
-----. «calhas de roda»
-----. «O poeta é um fingidor»
-----. «comboio de corda»
-----. última estrofe
-----. sem exemplo
-----. sem exemplo
-----. sem exemplo

B
:
-----. metonímia
-----. metáfora
-----. metáfora
-----. antítese
-----. metonímia
-----. metáfora
-----. imagem

C
:
-----. refere-se à razão, ao pensamento, à intelectualização
-----. oposição razão / sentimento
-----. o coração simboliza a sensibilidade, o sentir
-----. a poesia consiste no fingimento da realidade
-----. a combinação de metáforas
-----. a razão representa o raciocínio, o pensamento, a intelectualização
-----. traduz a feição lúdica do poema