quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

2. Contexto de Elaboração e Publicação

Num artigo publicado na revista "A Águia" (órgão principal do movimento cultural e intelectual da Renascença Portuguesa), intitulado "A nova poesia portuguesa sociologicamente considerada" (1912), Fernando Pessoa apresenta o Portugal presente como um país marcado por um cenário político "pobre", "deprimido" e "mesquinho", que aguarda a chegada de um «super-Camões» para liderar um ressurgimento assombroso da pátria.
No tempo de Pessoa, Portugal vivia um clima turbulento. De facto, o poeta não tinha completado dois anos quando, em 11 de Janeiro de 1890, a Inglaterra impôs a Portugal uma das suas maiores humilhações, exigindo, sob pena de invadi-lo, a retirada imediata das tropas estacionadas no Norte de África. A aceitação do Ultimatum acentuou o clima negativo da população relativamente à Monarquia, que culmina no assassinato do rei D. Carlos (regicídio) e do seu sucessor directo, príncipe Luís Filipe. A deposição de D. Manuel, dois anos depois, coincidente com a proclamação da República a 5 de Outubro de 1910, não consegue, porém, apaziguar o clima de instabilidade. O assassinato do presidente Sidónio Pais, por um monárquico, em 1918, acentua a contínua crise institucional, que só é realmente aplacada nos últimos anos de vida de Pessoa, com a instauração do Estado Novo (1932) e a subida de Salazar ao poder.

Ora, a análise da História revela que, em momentos de profunda crise e sucessiva instabilidade, manifesta-se um movimento encarado como oportunidade de projecção política e ideológica por governos de inclinação populista, que consiste no resgate e reforço dos mitos tradicionais, do sentimento de identidade cultural e nacional. Foi isso que sucedeu, por exemplo, no século XVII, em Portugal, então humilhado pela dominação espanhola, e que, ao libertar-se, manifestou, no período conhecido como restauração, por intermédio do padre António Vieira, uma valorização da língua portuguesa.
Qual a visão de Pessoa relativamente a Portugal? Para ele, o país vivia sob o signo da decadência institucional e da “desnacionalização”, motivada essencialmente por três etapas da história portuguesa: o desaparecimento de D. Sebastião (ao qual se sucedeu o domínio espanhol), a implantação da Monarquia e a proclamação da República.

1. A Poesia Nacionalista Anterior

O Ultimatum da Inglaterra provocou uma espécie de terramoto na consciência da elite cultural portuguesa e finais do século XIX e despertou um forte nacionalismo congregador de mitos ligados ao futuro, à utopia, traduzido num conjunto de obras:

  • A Pátria (1896), de Guerra Junqueiro;
  • O Desejado (1902), de António Nobre;
  • O Encoberto (1904), de Sampaio Bruno;
  • O Encoberto (1905), de Lopes Vieira;
  • A obra de Teixeira de Pascoaes.