segunda-feira, 14 de julho de 2008

Exame de Português (2.ª Fase) - Correcção

Grupo I

A

1. Alguns dos imprevistos, ou dificuldades, que a princesa D. Maria Bárbara enfrenta na sua viagem são os seguintes:
  • a chuva, aparentemente caída em abundância e repetidamente ("Voltou a chover..."), e o frio ("... já não chegava o péssimo tempo que faz, esta chuva, este frio...");
  • o clima adverso teve consequências e gerou outras dificuldades, como, por exemplo, a formação de "atoleiros";
  • o meio de transporte utilizado era deficiente e de muito má qualidade, de tal modo que os "eixos" das rodas se partiam e os "raios" se rachavam como "gravetos";
  • a visão que a princesa teve de "... um pardo ajuntamento de homens, alinhados na beira do caminho e atados uns aos outros por cordas...";
  • a visão do "espectáculo de grilhetas", na véspera do seu casamento, em que tudo deveria ser "ledice", deixa-a perturbada ("turbou-se").
2. O excerto transcrito traduz o contraste entre o ambiente de festa, de alegria, de regozijo, de celebração, que deveria caracterizar o casamento da princesa, e uma visão profundamente negativa da realidade que observa, uma realidade brutal e cruel, caracterizada pela situação de escravidão/escravatura a que são sujeitos os homens que vê na beira da estrada e que se dirigem para as obras de edificação do Convento de Mafra.

3. No excerto, existem diversos recursos estilísticos:
  • desde logo, talvez o mais fácil de detectar, a comparação ("... o convento é para si como um sonho sonhado..."), que remete para o facto de o Convento de Mafra ser uma espécie de sonho para a princesa, isto é, não ser uma realidade palpável, concreta, não obstante o facto de o mesmo existir, exclusivamente, por sua causa, dada a promessa feita pelo pai (início da obra);
  • na expressão acima destacada, podemos observar também uma espécie de pleonasmo ou redundância ("sonho sonhado"), com uma expressividade equivalente à da comparação;
  • em terceiro lugar, todo o parágrafo é dominado pela anáfora e pelo paralelismo ("Maria Bárbara não viu, não sabe, não tocou (...) não serviu, não aliviou, não enxugou..."), que, mais uma vez, destacam, por um lado, o facto de a princesa não ter consciência da existência do convento, não ser uma realidade que lhe marque a existência, e, por outro, o imenso sofrimento, a situação de escravidão e as condições desumanas a que estão sujeitos os homens que se dirigem para os trabalhos do convento;
  • por último, destaque para a metáfora ("... uma névoa impalpável..."), que remete para a dificuldade de Maria Bárbara visualizar o convento, de o tornar uma realidade concreta.
4. É possível dividir o texto nos seguintes momentos:
  • Os imprevistos que marcam a viagem da princesa;
  • A visão dos homens na beira da estrada e a sua perturbação, seguida do «episódio» com o oficial;
  • O desinteresse que a princesa demonstra, no 3.º parágrafo, relativamente à construção do convento, uma espécie de sonho impalpável para ela.

B

Relação Baltasar / Blimunda:
  • conhecem-se num auto-de-fé;
  • a relação é, inicialmente, abençoada pela mãe de Blimunda e, posteriormente, «oficializada» pelo padre Bartolomeu de Gusmão;
  • comunicam através do olhar, de gestos simples (o deixar a porta aberta, sinal de aceitação da parte de Blimunda, o sentar-se, o gesto de acender o lume na lareira, o servir da sopa e o acto de comerem pela mesma colher, sinal de aceitação mútua);
  • «casam» com a bênção do padre Bartolomeu de Gusmão, não cumprindo os preceitos religiosos;
  • a perda da virgindade de Blimunda está envolta num ritual de sangue que remete para a iniciação sexual do casal e o juramento de amor;
  • ...

Em suma, estamos perante:

  • uma relação de amor, de cumplicidade, de companheirismo;
  • uma união de livre vontade;
  • uma relação marcada por demonstrações espontâneas de amor espiritual e carnal, caracterizada por diversos jogos eróticos;
  • uma vivência activa e espontânea do amor e da sexualidade;
  • um casal que transgride os códigos estabelecidos: dormem nus, não casam segundo os cânones, entregam-se a carícias e jogos eróticos, não procriam, não olham a lugares, datas ou limites para consumarem o seu desejo;
  • a vivência de um amor instintivo, natural e genuíno, sem regras nem limites.

Todos estes aspectos contrastam com a relação do casal real, marcada pela ausência de amor (tratou-se de um casamento por contrato), pelo excesso de formalismos e de cerimónias, bem como por uma sexualidade encarada com o fim único de procriar, de dar um herdeiro à coroa, isto é, de onde está ausente o amor e o prazer.


Grupo II

. 1 - A
;

. 2 - B;

. 3 - B;

. 4 - C;

. 5 - A;

. 6 - A;

. 7:
  • A - Falso;
  • B - Verdadeiro;
  • C - Falso;
  • D - Verdadeiro;
  • E - Verdadeiro;
  • F - Falso;
  • G - Verdadeiro;
  • H - Verdadeiro;
  • I - Falso;
  • J - Verdadeiro.