sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tempo do discurso

          O tempo do discurso é revelado através da forma como o narrador relata os acontecimentos. Ele pode apresentá-los de forma linear, optar por retroceder no tempo em relação ao momento da narrativa em que se encontra ou antecipar situações.

1. Analepses
  • a referência a 1624: a explicação, em parte, da construção do convento como consequência do desejo expresso, nesse ano, pelos franciscanos, de possuírem um convento em Mafra;
  • a referência à batalha de Jerez de los Caballeros, em “Outubro do ano passado”;
  • D. Maria Ana Josefa "chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa...";
  • D. João V é "um homem que ainda não fez vinte e dois anos...";
  • "S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze." (esta analepse e a anterior permitem deduzir a data de 1711 como a que marca o início da acção - 1211 + 500 = 1711; D. João V nasceu em 1689 + 22 anos = 1711);
  • a referência ao facto de o primeiro auto-de-fé ter acontecido "dois anos depois de se queimarem pessoas em Lisboa", que remete oara 1709;
  • o regresso da nau de Macau, que partiu "há vinte meses", ainda Sete-Sóis andava na guerra;
  • o nascimento e baptizado da infante Maria Bárbara ou do infante D. Pedro, que morrerá com dois anos;
  • o nascimento do futuro rei D. José em 1714.
2. Prolepses
  • as mortes do sobrinho de Baltasar e do infante D. Pedro;
  • a morte de Álvaro Diogo, que viria a cair de uma parede durante a construção do convento;
  • o prenúncio da morte da filha do Visconde de Mafra para daí a dez anos: "... não vai haver muita música na vida desta criança (...) daqui a dez anos morrerá e será sepultada na igreja de Santo António...";
  • a informação sobre os bastardos que o rei iria gerar, filhos das freiras que seduzia: "... por isso se diverte tanto com as freiras (...) que quando acabar a sua história se hão-de contar por dezenas os filhos assim arranjados...";
  • as referências aos cravos (outrora, nas pontas das varas dos capelães; muito mais tarde, símbolos da revolução do 25 de Abril);
  • a associação entre os possíveis voos da passarola e o facto de os homens irem à lua no século XX;
  • a alusão ao tipo de diversões típicas do séc. XVII;
  • a referência à futura existência de cinema e aviões: "... para vir o cinema ainda faltam duzentos anos, quando houver passarolas a motor, muito custa o tempo a passar...".
3. Sumários
  • "Tornou o padre aos estudos, já bacharel, já licenciado, doutor não tarda.";
  • "Aí está Junho".
4. Elipses
  • alguns períodos em que Baltasar e Blimunda estão em Mafra ou em S. Sebastião da Pedreira;
  • as viagens do padre Bartolomeu de Gusmão ao estrangeiro, nomeadamente à Holanda;
  • o período que o padre passou em Coimbra a estudar;
  • o período de nove anos, correspondente à procura de Baltasar por parte de Blimunda: "Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar. (...) Milhares de léguas andou..."

Tempo da história

          As referências cronológicas do romance são escassas ou descortinam-se por dedução.
  • 1711 ‑ D. João V promete “construir um convento de franciscanos na vila de Mafra” se a rainha lhe der um herdeiro.
  • 1714 ‑ Nasce o infante D. José, futuro rei, filho de D. João V e de D. Maria Ana.
  • 1717 ‑ Início da construção do Convento de Mafra, que decorrerá até 1730 (para agradecer o nascimento de D. José).
  • 1723 ‑ Surto de febre amarela em Lisboa.
  • 1724 (19 de Novembro) ‑ Furacão em Lisboa.
  • 1725 ‑ Os casamentos dos príncipes e das princesas está já a ser preparados.
  • 1728 ‑ D. João V expressa o desejo de inaugurar o convento no dia do seu 41.º aniversário.
  • 1729 ‑ Casamento dos príncipes portugueses (D. José e D. Maria Bárbara) com os príncipes espanhóis (Fernando e D. Maria Vitória de Bourbon).
  • 1730 ‑ Sagração da basílica do convento.
  • 1730 ‑ Desaparecimento de Baltasar.
  • 1739 ‑ Blimunda procura Baltasar durante nove anos.
  • 1739 ‑ Auto-de-fé (18 de Outubro), no qual são queimados Baltasar e António José da Silva.