quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Complemento directo

     Os complementos são constituintes da frase seleccionados por um verbo, um nome, um adjectivo, um advérbio...


1. Definição

     O complemento directo (CD) é um constituinte obrigatório seleccionado pelo verbo (transitivo directo), não precedido de preposição:

          . Eu adoro uvas.
          . O gato comeu o rato.
          . Amo-te.


2. Representatividade

     O CD situa-se, regra geral, à direita do verbo e pode ser representado por:

          a) um grupo nominal:
                    . O Juvenal adora bananas.
                    . Fui à feira e comprei dois sacos de batatas.

          b) uma oração substantiva completiva:
                    . O Jorge afirmou que o Carlos Queirós é um treinador assim-assim.
                    . Quero que te portes bem.

     Quando o CD é um grupo nominal, pode ser substituído pela forma acusativa do pronome pessoal de 3.ª pessoa (o, a, os, as):

                    . Agostinho Oliveira convocou João Moutinho e Manuel Fernandes.
                    » Agostinho Oliveira convocou-os.

                    . A Sara agrediu a Verónica.
                    » A Sara agrediu-a.

     Note-se que os acima referidos pronomes pessoais (o, a, os, as) podem apresentar outras formas quando surgem depois de:

               a) r, s, z (que desaparecem): passam a lo, las, los, las:
                         . Compras a consola (CD)?. Compra-la (CD)?

               b) m e ditongo ou vogal nasal: passam a no, na, nos, nas:
                         . Eles deram um presente (CD) ao Luís.. Eles deram-no (CD) ao Luís.

     Para aprofundar este tema, recomendamos a consulta do «post» referente aos pronomes pessoais. Clicar AQUI.


     De acordo com Clara Amorim e Catarina Sousa, na obra Gramática da Língua Portuguesa, editada pela Areal Editores (p. 122), «Alguns grupos nominais que ocorrem com verbos como pesar, custar ou medir não têm a função de CD, uma vez que não admitem a pronominalização pela forma acusativa do pronome pessoal nem a passiva, mas sim de Cobl (complemento oblíquo), respondendo à pergunta quanto + V + suj?:
               . Este saco pesa dez quilos?
               » * Este saco pesa-os?
               » * Dez quilos são pesados por este saco.
     Note-se, porém, que os mesmos verbos podem seleccionar um CD, com a função semântica de paciente, se o GN (grupo nominal) com a função sintáctica de sujeito desempenhar também a função semântica de agente:
               . O Luís pesou o saco.
               » O Luís pesou-o.
               » O saco foi pesado pelo Luís.»



     Por outro lado, quando o CD é um uma oração subordinada substantiva, pode ser substituído por um pronome demonstrativo:
               . O João disse que o Benfica jogava mal.. O João disse-o.
                                                                         → . O João disse isso.

     Quando o verbo admite a passiva, a transformação da forma activa para a forma passiva implica que CD passe a desempenhar a função sintáctica de sujeito e se desloque para o início da frase:
               . O gato comeu o rato (CD).. O rato (sujeito) foi comido pelo gato.



     O CD pode ser antecedido da preposição a em determinadas circunstâncias:
  • com verbos que exprimem sentimentos relativos a seres humanos e antes do nome Deus:
               . Adoro a Deus.
  • quando o CD é um pronome pessoal antecedido de uma preposição:
               . A mim não me enganam.
  • quando o CD se encontra antes do verbo e é realizado pelo pronome quem:
               . A quem madruga, Deus ajuda.
               . A ferro quente, malhar de repente.
  • para evitar ambiguidade:
               . Caim matou a Abel. (José Saramago, As Intermitências da Morte)

     Note-se que, nestes casos, é possível substituir o CD pelas formas pronominais o, a, os, as e, na passiva, desempenham a função sintáctica de sujeito, pelo que não os podemos considerar complementos indirectos ou complementos oblíquos:
               . Adoro a Deus.. Adoro-o.
                                         . Deus é adorado por mim.



3. Teste

     Além dos testes acima apresentados que permitem a identificação do complemento directo, existe outra forma de o detectar: perguntar ao verbo quem? ou o quê?:

               . O Pedro assaltou a escola.
               » O Pedro assaltou o quê? Resposta: a escola. (CD)

               . Vi a Joana na feira.
               » Vi quem? → Resposta: a Joana. (CD)



4. Conclusões
  • O complemento directo (CD) é seleccionado pelo verbo.
  • O CD, porque seleccionado pelo verbo, faz parte do predicado.
  •  O CD pode ser constituído por um grupo nominal ou por uma oração.
  •  O grupo nominal que desempenha a função sintáctica de CD pode ser substituído pelas formas pronominais o, a, os, as e a oração com a mesma função pelas formas pronominais o ou isso.
  • Aquando da transformação de uma frase activa para a passiva, o CD desloca-se geralmente para o início da frase e passa a desempenhar a função sintáctica de sujeito.


Fontes:
              
     » Dicionário Terminológico;
     » AZEREDO, Olga et alii, Gramática Prática de Português, Lisboa Editora;
     » AMORIL, Clara e SOUSA, Catarina, Gramática da Língua Portuguesa, Areal Editores.

Sem comentários: