- é prepotente e sectário;
- é absolutista;
- é profundamente religioso;
- reaccionário, não aceita as ideias de liberdade personificadas pelo general Gomes Freire;
- primo do general, odeia-o porque põe em causa o seu poder e por lhe reconhecer qualidades que ele próprio não possui;
- sentindo-se ameaçado pelas novas ideias e pelo ambiente revolucionário, executa um plano ardiloso para forjar a condenação de Gomes Freire;
- é maquiavélico (os fins justificam os meios -> O Príncipe Perfeito, de Maquiavel) e corrupto, pois «compra» os denunciantes;
- manipulador e estratega, recorre a argumentos convincentes para alcançar os seus objectivos: descreve Gomes Freire como um soldado brilhante, um homem inteligente e um herói do povo para convencer Beresford, que receia perder o seu posto e a sua tença; recorda que o general é grão-mestre da Maçonaria e estrangeirado no sentido de persuadir principal Sousa;
- é, porém, medroso ("Repugna-me a acção, estaria politicamente liquidado se tivesse de discutir as minhas ordens..."), constituindo o oposto do primo ("É frio, desumano e calculista. Odeia Gomes Freire (...) é a personificação da mediocridade consciente e rancorosa.");
- é desumano, cruel e vingativo ("Lisboa há-de cheirar toda a noite a carne assada. (...) o cheiro há-de-lhes ficar na memória durante muitos anos (...)").
Em suma, D. Miguel constitui o protótipo do pequeno tirano, inseguro e prepotente, contrário ao progresso e à mudança, insensível à miséria e à injustiça. A sua retórica é oca, desprovida de conteúdo e demagógica. A sua visão de um Portugal "próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor" é o retrato do Portugal salazarento da década de sessenta do século passado.
D. Miguel, simultaneamente megalómano e prepotente e cobarde e calculista, desprovido de integridade e corrupto, simboliza um país em acentuada decadência, minado pela corrupção e pelo desejo de encontrar um culpado que sirva de exemplo para todos aqueles que procuram a revolução, a mudança de status quo.
Desumano, profundamente ambicioso e egoísta, defende a separação de classes sociais, uma espécie de castas: "Não concebo a vida, Excelências, desde que o taberneiro da esquina possa discutir a opinião d'el-rei, nem me seria possível viver desde que a minha opinião valesse tanto como a de um arruaceiro. Pergunto-vos, senhores: que créditos, que honras, que posições seriam as nossas, se ao povo fosse dado escolher os seus chefes?".
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