quinta-feira, 22 de abril de 2010

Principal Sousa

Principal Sousa, a figura que representa o poder religioso, é, em nossa opinião, de todas, a personagem mais odiosa da peça. Porquê? Desde logo, porque deveria representar o BEM e, por isso, estar ao lado do povo humilhado, explorado, oprimido e ingorante. No entanto, pelo contrário, Principal Sousa personifica uma Igreja contrária aos princípios cristãos e ao exemplo de Jesus Cristo: autocrática, dogmática, conservadora nos usos e costumes, falsa e hipócrita, defensora dos seus interesses, daí o seu comprometimento com o poder político (a equivalência à relação, em determinados períodos do estado Novo, entre a Igreja católica, representada pelo Cardeal Cerejeira, e o Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar).
O terceiro governador é, além disso, um obscurantista, na medida em que defende a manutenção do povo na ignorância para que, desse modo, o poder opressivo e tirânico possa manter o seu reinado livremente. Assim, também não é de estranhar que ele odeie os ideais revolucionários e os franceses, acusando-os de serem responsáveis pelo espiríto revolucionário que germina e que poderá contribuir para o fim do seu consulado. Ainda enquanto «homem religioso», vive deformado pelo fanatismo religioso, evidenciando uma ausência aflitiva de valores éticos e um paternalismo falso, oco e beato. Daí a sua linguagem estereotipada, paternalista e falsamente compreensiva.

Em termos de relações com as outras personagens, odeia o general, nutrindo contra ele um forte desejo de vingança; detesta igualmente Beresford, mas não o hostiliza por reconhecer que necessita da sua ajuda para manter o poder de que disfruta; acaba desmascarado e humilhado por Matilde.

Em suma, Principal Sousa simboliza o seguinte:
a) o conluio entre a Igreja e o Poder;
b) a política do orgulhosamente sós, princípio em que se espelha, mais uma vez, o Salazarismo;
c) o não cumprimento da sua missão, evidenciada pela sua hipocrisia, pela ausência de valores éticos e morais consonantes com a ética cristã e pela cobertura que dá à injustiça.

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