sexta-feira, 30 de abril de 2010

Matilde de Melo

Matilde, Sousa Falcão e Frei Diogo constituem o grupo de amigos do general, que age em nome do amor, da amizade e da caridade cristã, respectivamente.

1. Origens:

  • Seia;

  • ambiente pobre e religioso.
2. Retrato físico:

  • vestida de negro (sinal de luto pela prisão do general);

  • desgrenhada (sofrimento e estado de alucinação causados pela prisão do general).
3. Retrato moral:

  • grande sentido de justiça e lealdade;

  • grande nobreza de carácter;

  • digna e simples, apesar do desprezo com que é tratada por ser a amante do general.
4. Matilde -> General:

  • apaixonada;

  • carinhosa;

  • grande ternura;

  • sensível;

  • sonhadora (recorda com saudade os tempos pobres, mas felizes, vividos por ambos).
5. Matilde -> após a prisão do general:

  • inundada pela dor, pelo rancor, pela raiva, pela angústia e pelo desespero;

  • vive uma crise de valores: mostra-se disposta a ceder perante o poder instituído em troca da via do general, chega a questionar os valores que nortearam a vida de Gomes Freire;

  • tudo faz para o salvar:
    -> humilha-se perante Beresford;
    -> ajoelha-se perante principal Sousa e implora-lhe que salve o seu amado.
6. Matilde -> no momento da morte de general:
  • vive um estado de alucinação, loucura e delírio -> denúncia do absurdo a que a intolerância e a violência conduzem o ser humano;
  • acaba por transformar a tragédia (morte do general) num momento de esperança e apelo à modificação da situação.
7. Matilde -> Governadores:
  • ousada e resoluta;
  • determinada e decidida;
  • combativa e corajosa;
  • revoltada;
  • inconformada perante a falsidade, a opressão, a deslealdade, a injustiça e a intolerância;
  • escarnece e desmascara a hipocrisia dos governadores;
  • mantém um discurso agressivo, crítico e sarcástico em certas falas com os governadores;
  • faz uso de um tom arrogante e desafiador, de desprezo;
  • porém, em gesto de desespero, humilha-se por momentos para salvar Gomes Freire.

  1. Matilde é uma mulher lúcida e corajosa, de carácter forte perante a vilania, vibrante nas palavras de paixão. Recusa a hipocrisia e odeia a injustiça e o materialismo.

  2. Amante, esposa e companheira de todas as horas, não suporta a separação do homem que ama, acabando por se revelar uma espécie de alterego de Gomes Freire. Quer isto dizer que é impossível dissociar o clamor de revolta de Matilde do general, e uma vez que ele não pode provar a sua inocência, será ela a tentar fazê-lo, invectivando os seus três principais adversários, pois não crê que a acusação se mantenha nem que a condenação venha a ocorrer quando os acusadores constatarem, em consciência e com justiça, que a acusação é falsa: "Serei, então, a voz da sua consciência. Ninguém consegue viver sem ouvir a voz da consciência, António." (p. 88).

  3. Existe, porém, outra Matilde: a mulher. Neste caso, é o símbolo do Feminino, revelado durante os diálogos que mantém, onde se assume como o arquétipo da mulher que ama e sofre porque ama. O seu discurso revela o seu sofrimento íntimo, bem como o de todos aqueles que, vendo-se separados do ser que os completa, se sentem despojados da unidade que simbolizam: "(...) Amante dum traidor... e assim acabamos a vida... Tu, que deste aos homens tudo o que tinhas e viveste de mãos abertas, acabas enforcado com o rótulo de traidor. E eu... que nasci tua mulher, morro tua (...) amante! Nem me recebem, meu amor. (...) Chegamos ao fim da vida - matam-nos e nem nos consideram dignos de uma explicação. Tratam-nos assim, como se nunca tivéssemos existido..." (p. 120).

  4. O seu discurso funciona como uma resposta ao discurso oficial, apoiado nos textos bíblicos, ainda que estes surjam com uma interpretação duvidosa: "(...) Senhor, se te lembras da cruz, permite que o meu homem morra de cabeça levantada! Não vos peço nada para mim. Mais: troco a minha vida pela dele! Fazei-me sofrer, matai-me torcida de dores e abandonada de todos, mas a ele, dai-lhe uma morte que o não mate de vergonha!" (pp. 97-98).

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom :)