domingo, 27 de abril de 2008

Povo

Por um lado, o povo é uma classe sem qualquer poder e sem líder, daí que se apresente oprimido e indefeso. A miséria (fome, desemprego), a ignorância e a falta de perspectivas de, aliadas à desilusão (acentuada pela prisão do general), à opressão e ao terror, marcam a sua existência quotidiana. A arma única de que dispõe é a ironia, enquanto a rua é o espaço privilegiado, retrato da miséria e da exploração de que é vítima.

Por outro lado, demonstra um grande sentido de injustiça e uma elevada consciência e sentido de dignidade, vendo no general a única esperança de libertação da opressão, do medo e da miséria em que vive.

O povo funciona como uma personagem colectiva, uma espécie de grupo de deserdados pela sorte e pelo berço, constituído por aqueles que servem e são explorados , que necessitam de pedir esmola, que são tratados indignamente pela classe dominante.

São várias as funções que desempenha:
  • coro: as suas falas têm o valor de informação ou comentário dos acontecimentos;
  • inicia os dois actos, estabelecendo, no primeiro, a ligação entre a acção e o público e relatando, no segundo, a prisão do general e o desespero de Matilde;
  • situa o espectador no tempo histórico, através das suas interrogações ("Onde aprendeu vocemessê isso? Em Campo d'Ourique - já lá vão dez anos..." - p. 18);
  • no acto II, as suas falas revestem o carácter de informação/comentário sobre os episódios ao nível da acção dramática: "Passaram toda a noite a prender gente por essa cidade..."; "É por pouco tempo, amigo, espera pelo clarão das fogueiras..." (p. 80).

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