terça-feira, 6 de maio de 2008

Antigo Soldado

Esta personagem representa os soldados que consideravam Gomes Freire de Andrade um herói. O “antigo soldado do regimento de Gomes Freire” (p. 13) mostra-nos a influência do general sobre os seus homens. Por um lado, faz deles defensores da liberdade, por outro, deixou-lhes o orgulho e a saudade dos tempos em que combatiam com ele (p. 17). “Gomes Freire é o seu herói.” (pp. 19 a 22), mas, como os outros populares, o Antigo Soldado não tem capacidade de reacção: “Prenderam o general... Para nós, a noite ainda ficou mais escura... E agora? (Ninguém responde)” (p. 99).
Ele, que agora se inclui no grupo dos populares miseráveis, recorda, nostálgica e orgulhosamente, os tempos em que combateu no exército comandado por Gomes Freire: “Aqui onde me vêem já andei nas guerras...” (p. 19). Mas agora ele é a prova viva de que Vicente tem razão quando afirma que os soldados, que fazem parte do povo, servem os generais só enquanto têm capacidades, depois são abandonados à sua vida miserável: “Este homem está aqui porque já não serve para nada. Ouviram? Está aqui porque já não interessa aos generais. O que eles querem é servir-se da gente! Quando um homem chega a velho e já não pode andar por montes e vales, de espingarda às costas, para eles se encherem de medalhas, tratam-no como um pobre fugido à polícia: abandonam-no, mandam-no para a porta das igrejas pedir esmola...” (p. 22).
No Acto II, são visíveis o sofrimento e a decepção do Antigo Soldado quando se dá a prisão do general. Acabrunhado, afirma: “Prenderam o general... Para nós, a noite ainda ficou mais escura...” (p. 80). É evidente o pessimismo da personagem ao fazer esta afirmação. Associados à noite surgem o obscurantismo em que vivia o povo e o desalento dos que acreditavam no general. Não há, agora, qualquer réstia de luz, isto é, qualquer esperança. Tristemente, o 1.º Popular, perante as palavras do Antigo Soldado, afirma em tom profético: “É por pouco tempo, amigo. Espera pelo clarão das fogueiras...” (p. 80). O clarão das fogueiras corresponderá à morte de Gomes Freire de Andrade, mas não, contrariamente ao que os governadores pensavam, ao final da luta pela liberdade.

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