segunda-feira, 24 de março de 2008

10.4.3. Plano da Mitologia

Formalmente, a unidade de Os Lusíadas é estabelecida pela intriga dos deuses, visto que estes estão em cena desde o princípio até ao fim da obra (excepto na introdução e na conclusão): abre com o episódio do Consílio dos Deuses e termina com o da Ilha dos Amores. As personagens mitológicas têm uma vida que falta às personagens históricas: são aquelas os verdadeiros seres humanos, que sentem, se apaixonam, intrigam. Vasco da Gama é muito mais hirto e frio que o Adamastor, não obstante este ser um cabo. E ninguém tem a presença, a força, a personalidade provocante de Vénus.

A acção consiste no seguinte: Vénus, auxiliada por Marte, seu amante, pretende ajudar os portugueses a chegarem à Índia; Baco, que entende que o Oriente é domínio seu, opõe-se-lhe, provocando a animosidade dos povos costeiros, convencendo ainda os deuses marítimos a desencadearem uma tempestade e, finalmente, induzindo os mouros a atacarem Vasco da Gama. Mas Vénus, vigilante, intervém junto de Júpiter, mobiliza as ninfas do mar, que impelem as naus para fora do perigo, e, seduzindo os deuses do mar, consegue aplacar a tempestade. Finalmente, para premiar os portugueses, prepara-lhes, com a ajuda de seu filho Cupido, uma ilha de delícias, onde eles, conubiando-se com as ninfas, se tornam divinos e são admitidos à visão do cosmos com Vasco da Gama à frente, ele próprio tornando-se esposo da deusa do mar.
Assim, é na intriga dos deuses que radica a verdadeira acção com princípio, meio e fim.

Através da mitologia, Camões exprime algumas tendências do Renascimento:
  • a vitória dos homens sobre os deuses, que personificam os limites impostos pela tradição à iniciativa humana;
  • a confiança na capacidade humana para dominar a natureza;
  • a concepção da natureza como ser vivo;
  • a afirmação (virtual) de Deus como imanência;
  • a crença na bondade da natureza;
  • a identificação da lei da razão com a lei da liberdade;
  • a destruição da noção de pecado.

    N’ Os Lusíadas, existem vários tipos de mitologia:
    pagã: os deuses pagãos greco-romanos;
    cristã: Deus;
    mista: coexistência das duas anteriores;
    céltica/mágica: fadas, bruxas, feiticeiras.

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