quarta-feira, 30 de abril de 2008

Espaço físico / geográfico

No acto I, a acção decorre nos seguintes espaços:

→ as ruas de Lisboa, onde se encontram os populares;
→ o local onde D. Miguel Forjaz recebe Vicente;
→ o palácio dos governadores do Reino, no Rossio.

São ainda referenciados:
→ a casa de Gomes Freire, para os lados do Rato;
→ os espaços frequentados pelos revolucionários conspiradores:
. um café no Cais do Sodré;
. o botequim do Marrare;
. uma loja maçónica, situada na rua de S. Bento.

No acto II, os acontecimentos decorrem nos seguintes locais:
→ as ruas de Lisboa, onde os populares comentam a prisão de Gomes Freire;
→ a casa de Matilde de Melo;
→ o local onde Beresford recebe Matilde;
→ à porta da casa de D. Miguel Forjaz;
→ o local onde Matilde fala com principal Sousa (que parece ser um local sagrado);
→ o alto da serra de Santo António, onde Matilde e Sousa Falcão observam as fogueiras que queimam os revolucionários.
São ainda mencionados:
→ a masmorra de S. Julião da Barra, onde se encontra Gomes Freire;
→ o Campo de Santana, para onde são levados os presos;
→ a aldeia onde nasceu Matilde;
→ Paris;
→ os campos da Europa onde o general combateu;
→ a porta da Sé, onde os populares mendigavam (p. 100).


1.1. Conclusões

1.ª) O espaço físico não assume grande relevo. Só os diferentes espaços sociais adquirem pertinência.

2.ª) Por influência de Brecht e do teatro medieval, há escassas referências directas ao espaço físico, pois a acção pode ocorrer em qualquer lugar e “sempre que o «ontem» impossibilite o despertar do «amanhã»”. No entanto, pode concluir-se que a acção se dispersa por vários locais diferentes, interiores e exteriores, embora interligados pela referência a Gomes Freire de Andrade.

3.ª) As indicações cénicas não fazem referência a cenários diferentes.

4.ª) O espaço é, pois, pobre em recursos cénicos, no entanto, por isso mesmo ganha enorme valor simbólico, reforçando o carácter épico da peça.

5.ª) A mutação de espaço físico é sugerida por outras técnicas teatrais, nomeadamente pelo recurso aos jogos de luz/sombra, que permitem criar um ambiente quer de desalento, quer de sonho, e pelo recurso a alguns objectos: um caixote, uma saca, uma cruz, três cadeiras opulentas, uma cadeira tosca e uma velha cómoda. Esta simplicidade parece ser intencional e mais importante que os cenários é a intensidade do drama, que é, aliás, realçada por esta economia de meios.

6.ª) A cidade de Lisboa é o espaço figurado, concretizado pelas referências ao Forte de S. Julião da Barra e ao Campo de Sant’Ana, posteriormente denominado Campo dos Mártires da Pátria, por causa do acontecimento retratado na peça e também pela alusão aos “Senhores do Rossio”.

7.ª) Por outro lado, Lisboa é um espaço de contraste que permite o confronto claro entre o poder e o povo, assumindo um valor de espaço social pelas dicotomias que contém.

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