quarta-feira, 30 de abril de 2008

Tempo da escrita - o Estado Novo (1961)

Salazar, a figura de proa do chamado Estado Novo, era o herdeiro dos ideais contra-revolucionários clássicos, um político que negava a tradição liberal dos séculos XIX e XX. Para ele, o liberalismo fora uma invenção importada por um grupo de «estrangeirados» que estragara tudo o que de são existia na história pátria. O ano de 1820 fora a raiz de todos os males: não tivesse existido a Revolução Francesa e os homens teriam continuado a viver felizes. De resto, como todas as revoluções, a revolução de 1879 tinha falhado. A natureza humana exigia um poder coercitivo. Numa frase lapidar, Salazar explicou: “Deve o estado ser tão forte que não precise ser violento”.
Porém, apesar destas intenções, o regime foi responsável pelo clima de opressão que violava os direitos humanos fundamentais: o de expressão, manifestação e associação. A oposição apenas podia existir clandestinamente e o esforço para manter a ordem manifestava-se de forma violenta, recorrendo frequentemente à força. O governo regia-se por princípios totalitários, baseados no autoritarismo.
A PIDE/DGS, polícia política, uma espécie de Inquisição dos tempos modernos, tornou-se o meio mais eficaz e mais violento para exercer a repressão. Apoiada em informantes que recebiam um pagamento mensal para denunciar qualquer pessoa ou actividade que parecesse suspeita, a PIDE exercia a repressão de diversas formas: despedimentos, perseguições, deportações, exílios, prisões, torturas. Pelas suas mãos, passou um apreciável número de opositores ao regime e não só.
Também a censura, que existia em Portugal desde o século XV, foi um instrumento precioso do Estado Novo, fazendo sentir-se de diversas formas, nomeadamente a ideológica e literária, que foi responsável pela estagnação criativa e artística no nosso país. Por causa disso, muitos foram os escritores que viram as suas obras censuradas e etiquetadas de “subversivas”.
Apesar do grande crescimento económico registado na década de 60, Portugal continuava a caracterizar-se por más condições de vida e de trabalho, pela falta de condições higiénicas, por uma elevada taxa de mortalidade infantil e de analfabetismo, indicadores de pobreza que nos colocavam na cauda da Europa.
Por outro lado, o ano de 1961 marca o início da guerra colonial, que levou muitos dos jovens portugueses a emigrarem clandestinamente para lhe fugir.
Na década de 60, vivia-se, assim, um clima de descontentamento geral que se evidenciava nas várias manifestações estudantis e greves que contestavam o regime, e também no aparecimento de movimentos de oposição política que exigiam eleições livres e democráticas.
A publicação da peça, em 1961, coincide assim com um descontentamento crescente, em parte estimulado por uma opinião politicamente informada sobre o que acontecia na maioria dos países da Europa Ocidental, onde a democracia já havia triunfado.

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